O número de tratamentos de fertilidade feminina tem aumentado a cada ano. Como já sabemos, o número de pessoas com sobrepeso no Brasil também vem aumentando ano a ano, e as mulheres já são mais afetadas pela obesidade do que os homens.
É cientificamente comprovado que alguns hábitos afetam a fertilidade feminina e masculina, embora de maneiras diferentes. Embora não haja uma definição única, a infertilidade normalmente se refere à ausência de gravidez após um período razoável onde as relações sexuais são bem distribuídas ao longo do ciclo menstrual e acontecem sem contracepção (um ano para mulheres com menos de 35 anos, 6 meses para mulheres com mais de 35 anos).
Alguns dos fatores que podem afetar a fertilidade feminina, tornando o processo de engravidar mais difícil:
- idade (a fertilidade diminui após os 35 anos);
- ciclos menstruais irregulares onde não ovulação;
- ter uma infecção sexualmente transmissível (DST), como a clamídia (que pode causar bloqueios nas trompas de falópio);
- problemas no útero (como miomas ou pólipos);
- problemas com as trompas de falópio (como trompas ausentes ou bloqueios);
- endometriose (excesso de tecido que se acumula em torno dos órgãos reprodutivos);
- desequilíbrios hormonais; e
- menopausa precoce (antes dos 40 anos).
Dentre todos esses fatores, hoje vamos falar sobre como a obesidade está associada à infertilidade feminina. O principal obstáculo das mulheres que apresentam excesso de peso e planejam engravidar é a ausência de ovulação. O excesso de gordura corporal causa desequilíbrio hormonal, atrapalhando a produção e a metabolização do estrogênio elevando a problemas de ovulação.
Segundo a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) a infertilidade é uma desordem complexa, que inclui aspectos médicos, psicológicos e econômicos, e atualmente é reconhecida como um problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde. Um em cada sete casais é afetado por este problema, isso é o que vale a 15 % da população.
Hormônios e Fertilidade feminina
Como dissemos acima, as alterações hormonais são muito comuns entre pessoas com sobrepeso ou obesas. O excesso de gordura na mulher faz com que o corpo produza maior quantidade de estrógeno, o que leva o organismo a limitar a produção hormonal ovariana, diminuindo as chances de engravidar.
A síndrome do ovário policístico (SOP) é uma condição caracterizada pela anormalidade no processo de ovulação, como consequência de um desequilíbrio hormonal que leva ao surgimento de pequenos cistos nos ovários. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, 40 % das pacientes com a síndrome do ovário policístico sofrem com a infertilidade. Além de acne, crescimento de pelos em áreas tipicamente masculinas e perda de cabelo, a irregularidade menstrual está presente em até 85 % dos casos e a obesidade acomete 60 % das pacientes com esta síndrome.
O hipertireoidismo e hipotireoidismo também pode prejudicar a saúde reprodutiva. Os hormônios tireoidianos interagem com os hormônios produzidos pela glândula hipófise, que estimulam a ovulação. No hipertireoidismo, o metabolismo acelera e os ciclos menstruais se tornam irregulares, podendo levar à ovulação fora do tempo, ou até impedir que ela aconteça. No hipotireoidismo, a falta do hormônio T4 pode levar à desregulação da ovulação, com a liberação do ovulo em fase não favorável à fecundação.
Em estudo de revisão de literatura publicado pela revista Femina sobre a relação entre a obesidade e a reprodução humana foi levantado que a “(…) gravidez em pacientes obesas ou com sobrepeso, espontânea ou após tratamentos de reprodução assistida, está associada a uma maior frequência de complicações. O risco de abortamento isolado é maior, assim como o de abortamento habitual, e a perda espontânea após fertilização in vitro. Os dados atuais sugerem que a obesidade pode afetar a função do corpo lúteo, do trofoblasto, o desenvolvimento embrionário precoce e a receptividade endometrial.
Além disso, a obesidade tem muitas implicações maternas com forte associação com desordens hipertensivas da gravidez, diabetes, infecção, tromboembolismo, alterações de humor e complicações no parto como sofrimento fetal, parada de progressão, apresentações anômalas, distocia de ombro e aumento na taxa de parto instrumentado ou parto cesáreo. A obesidade materna também tem impacto negativo considerável no desenvolvimento fetal com um aumento no risco de anomalias congênitas isoladas ou múltiplas, reduzindo o efeito benéfico da suplementação oral de ácido fólico”.
Recomendações para Fertilidade Feminina
A Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) recomenda que mulheres obesas com menos de 35 anos e com ausência de ovulação percam de 5 % a 10 % do peso total, num período de 6 meses. Depois disso a paciente poderá realizar a indução da ovulação por meio de medicações orais, que levam de três a seis ciclos até a concepção.
O artigo publicado pela revista Femina citado acima mostrou que alguns estudos relatam que a redução do peso em mulheres com SOP melhora o perfil endócrino, a ciclicidade menstrual, a taxa de ovulação e aumenta a probabilidade de gravidez saudável. Mesmo uma perda modesta no peso (de 5a 10% do peso corporal total) pode reduzir 30% da adiposidade visceral, com uma melhora na sensibilidade à insulina e restauração da ovulação
Mulheres obesas que apresentem problemas de fertilidade devem buscar apoio multidisciplinar para cuidar do seu emagrecimento. Além do acompanhamento do ginecologista, a paciente deve contar com suporte endocrinológico e psicológico, adotar uma alimentação saudável e praticar atividades físicas para aumentar suas chances de engravidar.
A perda de peso é capaz de restaurar a fertilidade na maioria dos casos, e os métodos podem ir desde uma combinação de atividade física, dieta e medicamentos, até a realização de cirurgia bariátrica.
* Blog publicado originalmente no site do Centro Integrado AKTA Liv, onde a Dra. Danielle Miyamoto faz seus atendimentos em ginecologia e obstetrícia, mastologia e oncologia ginecológica e mamária.
Dra. Danielle Miyamoto
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Link de interesse: Câncer de Mama, Obesidade, Alimentação e Atividades físicas
Dra. Danielle Miyamoto – (CRM: 156030, RQE Ginecologia e Obstetrícia: 69083, RQE Mastologia: 73739). Médica mastologista formada pela USP e ginecologista e obstetra formada pela UNICAMP, com título de especialista nas duas áreas. A Dra. Danielle Miyamoto atende na clínica Akta Liv, localizada na Chácara Klabin, Vila Mariana.